RIO DE JANEIRO, 22 Jun (Reuters) - Apenas o "possível" venceu a falta
de consenso e de disposição para desembolsar recursos em nome do
desenvolvimento sustentável, e a Rio+20 terminou sob críticas de falta
de ambição e à sombra da crise econômica internacional.
Países
ricos, tradicionais financiadores de projetos ambientais, usaram a crise
como justificativa para rejeitar o aporte de recursos, deixando no
documento final um vazio quanto a valores a serem destinados a programas
de desenvolvimento sustentável.
Delegações comemoraram o
consenso, alcançado antes da reunião de chefes de Estado e governo,
sobretudo por ter reafirmado pontos já acertados há 20 anos, na Eco-92, e
evitar um retrocesso em acordos já assinados.
Outros países, no
entanto, se mostraram frustrados com o que chamaram de falta de ambição e
urgência no combate a problemas decorrentes do aumento do consumo, da
população e da industrialização.
A atual crise financeira assombrou a conferência, e o acordo foi chamado de "possível" pela presidente Dilma Rousseff.
"Aplaudo
em especial os países em desenvolvimento que assumiram compromisso
concreto, mesmo sem a necessária contrapartida de financiamento dos
países desenvolvidos", disse Dilma, ao encerrar a conferência na
sexta-feira.
Com a resistência dos ricos de se comprometer com
novos aportes, o texto apontou apenas para uma diversidade de fundos,
inclusive privados, para o financiamento de ações para o desenvolvimento
sustentável.
Cerca de 100 chefes de Estado e governo, que
estiveram reunidos nos últimos três dias no Rio, discutiram formas de
estabelecer os chamados "objetivos de desenvolvimento sustentável", uma
iniciativa da ONU construída em torno do crescimento econômico, da
preservação ambiental e da inclusão social.
O G77, grupo dos
países em desenvolvimento -que inclui Brasil e China- havia proposto a
criação de um fundo de 30 bilhões de dólares destinado a projetos, mas
foi derrotado.
A conferência havia gerado baixa expectativa, com a
ausência de importantes líderes e países preocupados em resolver
problemas internos, mas diversas delegações, sobretudo da União
Europeia, criticaram o texto final, "O Futuro que Nós Queremos",
apontando falta de ambição.
"Muito se falou aqui sobre ambição,
mas pouco se colocou sobre a mesa. Não se pode exigir ação se não há
ambição de financiamento. Quem exige e não põe dinheiro está sendo
incoerente", disse a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.
As
ausências notáveis incluíram o presidente dos EUA, Barack Obama, a
chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, e o
primeiro-ministro britânico, David Cameron, que participaram de uma
reunião do G20 no início desta semana no México.
"FRACASSO ÉPICO"
As
delegações fracassaram em chegar a um texto na sexta-feira passada, e o
Brasil assumiu as negociações, sob a ameaça do documento representar
retrocesso a políticas já acertadas.
O acordo foi fechado após o Brasil ter simplificado a redação e eliminado trechos que causavam grandes divergências.
Na
terça-feira, pouco depois da aprovação do acordo, o ministro de
Relações Anteriores, Antonio Patriota, disse que a perspectiva das
negociações era de que os países não conseguissem chegar a um consenso.
A
mudança de status do Programa das Nações Unidas para Meio Ambiente
(Pnuma) foi citada por diplomatas brasileiros como outro entrave para um
acordo.
O Brasil e países europeus e africanos defendiam a
garantia de elevação do programa à condição de órgão da ONU. O texto
cita apenas um apoio ao fortalecimento do programa, mas deixa à
Assembleia Geral da entidade discussões sobre a transformação para
agência.
O diretor-executivo do Pnuma, Achim Steiner, reconheceu
que o documento reflete as dificuldades atuais no cenário internacional,
mas comemorou a redação sobre o programa.
Organizações
não-governamentais também criticaram o resultado da conferência, que foi
chamada de "Rio-20", e apontaram a ausência de compromissos e metas. O
documento final foi chamado de "O Futuro que nós não Queremos".
"A
Rio+20 se transformou em um fracasso épico. Falhou em equidade, falhou
em ecologia e falhou na economia", disse em comunicado Daniel Mittler,
diretor político do Greenpeace.